quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Colméião a véra....



Definitivamente hoje, terça-feira, foi um dos dias mais estranhos de minha vida.

Ao acordar de manhã e não ver Bica e Cafre dormindo, Leticia e o nosso anjo Rildon se arrumando para caminhar (ou esperando ou terminar de me arrumar). Tive aquela sensação “tá tudo errado, guerreiro”!

Ao longo do dia fui me acostumando de que não mais irei sair para caminha às seis da manhã com Leti e com o Sgto. Rildon, que o meu café da manhã não vai ser pão de queijo, que eu não vou escutar Pépe Moreno, com Bica cantando o refrão no último volume ( o restante da música ninguém sabia, mesmo após quase 10 dias escutando elas direto), a Lili ficando pau da vida porque acordou ao som do dueto Bica e Pépe. Que não terei mais que sair as 8:45 para ir para uma oficina.Que não encontrarei de manhã com meus amigos(as) e irmãos(ãs) do Paraná.

Colméia foi muito mais do que isso...

Eu não consigo descrever o que foi Colméia em poucas palavras (ou mesmo em muitas, acho que não conseguiria), mas foi algo que mudou minha vida.

Sempre soube que existem diversos Brasils, que a desigualdade é grande, mas uma coisa é ver e ouvir falar sobre um local, outra é vivenciar, mesmo que de uma forma limitada, a realidade de um local tão diferente da minha gigante Niterói (sim, comparado a Colméia, Niterói é gigante). Em minha opinião o dia mais marcante foi a nossa ida ao assentamento Marília. Ver uma realidade tão diferente da nossa, uma pobreza presente em todos os lugares, e ver como o povo dali se vira adaptando as coisas. A cozinha comunitária ao ar livre, a água em galão, foram chocantes, mas nada foi pior do que ver o banheiro, ou aquilo que eles chamavam de banheiro. Um rolo de papel higiênico pendurado em um galho marcava o banheiro. Ao estar naquele local e ver a vida daquelas pessoas, meu único pensamento foi de impotência em conseguir mudar a realidade daquele local, foi pensar “eu estudei 17 anos da minha vida e não posso fazer nada por este local?” Hoje mais calmo e afastado eu entendo que a simples ida do projeto Rondon ao assentamento fez a diferença para aquele local.

Sobre Colméia e o povo Colmeense, só posso definir como uma cidade pacata e gostosa com hábitos estranhos para nós, como, por exemplo, o fato de que as 11hs da noite não se via mais ninguém nas ruas e todo o comércio fechado. Aonde a carne vendida no açougue foi abatida de manhã e não foi congelada. Uma cidade em um ritmo muito mais lento do que a vida aqui no Rio.

Um povo agradabilíssimo, simples, e simpático. Sempre nos ajudando e nos ensinando lições de vida. Deixo aqui meu mais profundo obrigado ao Prefeito Ermilson (que carinhosamente me apelidou de Marioadonna), a Primeira dama Elzivan, a Netinha, a Nilma, a Edna, ao Castanho, Joaquim, ao seu Domingos e a equipe de seu restaurante, as diretoras das escolas, que sempre nos receberam de braços abertos, entre tantos outros que nos ajudaram e nos apoiaram durante estes 15 longos, cansativos e extremamente gratificantes dias.

Poucas vezes tive uma alegria tão grande do que ver uma cidade em transformação e saber que eu (e quando digo eu, entendam com um reflexo de cada um de nós rondonistas) fiz parte dessa transformação e que se deus quiser está será multiplicada e que daqui a anos as sementes que nos plantamos durante essas duas semanas germinarão e transformarão Colméia em um lugar muito melhor.

A sensação de que você cumpriu o trabalho, supera o cansaço físico e mental, dando um gás para continuar e seguir em frente. O momento mais marcante dessa satisfação foi no Show de Encerramento quando subiu ao palco o coral de Colméia, que foi obra da Oficina de Formação Vocal, realizada por Cafre e pelo Maestro Von Paglia (nosso grande Edmilson, professor da UFPR) cantando uma musica, que não lembro o nome, e dando um espetáculo que emocionou a todos os presentes. A expressão de emoção de Cafre e o discurso do Edmilson após o final fazendo um apelo para o prefeito contratar alguém para dar continuidade ao trabalho iniciado por eles, pois ali existiam mais do que pessoas que queriam fazer parte de um coral, existiam “profissionais” pode sintetizar o que eu estava dizendo da satisfação e da sensação de dever cumprido.

Por fim gostaria falar um pouco do grupo que foi. Um grupo tão diferente e que acabou por se misturar de tal forma que era comum ver o pessoal daqui tomando Chimarrão e o pessoal do sul usando gírias nossas.

Começando pelo o pessoal do Paraná: Logo no primeiro dia de atividades, a Daya nos reuniu e agradeceu a nossa presença em sua oficina, tentando controlar a as crianças. Seu agradecimento emocionado, comoveu a todos nos presentes, e ali foi a primeira vez que entendi que havia conhecido pessoas muito especiais, que marcariam e mudariam minha vida para sempre.

Nane (ou Ariane) com seu sorriso sensacional e seu comentários secos foi uma pessoa muito especial que sempre iluminava o meu dia, tirando a cotovelada que ela meu deu no Karaokê que de karaokê não tinha nada. Seu momento mais marcante foi quando ela disse, em tom de brincadeira que Douglas era a pessoa mais estranha que ela já havia conhecido.

Lili com seu bom humor (a não ser quando escutava Pépe Moreno) sempre atenciosa ao que tinha que fazer, nunca negando ajuda a quem pedia.

Helder o nosso médico trapalhão que quebrou o termômetro e se mostrou presente em diversos momentos da viagem.

Fábio foi um caso curioso. Logo de cara, quando conheci o Fábio, não sei porque não fui com a cara dele. Mas após 15 dias de convivência com este, posso dizer que poucas vezes errei tão feio sobre uma pessoa. Poucas vezes conheci, ou talvez nunca tenha conhecido, alguém tão humano quanto o Fábio. Sempre ajudando e buscando ajudar a todos. Seu papel na ida ao assentamento foi fundamental e naquele local eu percebi o grande erro que foi julgá-lo prematuramente. Um grande irmão que fiz nessa viagem.

Mas talvez o maior irmão que eu tenha feito nessa viagem, foi o campeão mundial do bambolê... imbatível em todos os Planetas... o Grande Fernando. Esse, com o seu jeito pacato e tranqüilo foi se mostrando um excelente irmão e uma pessoa engraçadíssima de se estar junto. Nossa despedida na ultima festa mostrou o quanto eu me importava com o Fernando. Um simples “tchau e se cuida” foi o suficiente para perceber que eu tenho um irmão no Sul, que eu tenho certeza de que na hora de que eu precisar dele este virá me ajudar.

Ao professor Edmilson e Daniel eu só tenho elogios e agradecimentos por trazerem uma equipe tão maravilhosa para Tocantins.

Quanto ao pessoal da La Salle. Não consigo fazer comentários que façam jus ao que vocês são e o que significam para a minha pessoa. Amo a todos vocês do fundo do meu coração e não tenho medo de admitir isso. Não tenho dúvida alguma de que vocês foram escolhidos por Deus (talvez o Bica não tenha sido, mas e daí?)

Aos Professores, Ana Carolina e Carlos Frederico, só tenho elogios fazer e agradecer por embarcarem nessa aventura conosco. Conheci um lado de vocês que não conhecia e espero que depois dessa viagem saibam que vocês são mais do que mentores para mim, vocês são parte da minha família. Obrigado...

Para aqueles que vierem depois de nós, não fique assustado com as dificuldades que vocês encontrarão lá, não fiquem desanimados com os problemas que acontecerão lá, pois isso faz parte do projeto e faz com que nós cresçamos e aprendamos a lidar com a vida de uma forma diferente. Participem do Projeto Rondon e quem sabe após 15 dias vocês descubram uma pessoa diferente dentro de vocês.

O nosso grito de guerra foi uma profecia que se realizou durante as duas semanas que mais pareceram 5 dias. Colméia Maravilhosa, Foi tudo de Bom, La Salle UFPR, Somos Projeto Rondon.

Como escrito na carta que recebemos ao retornar ao 22º BI: “Missão dada é Missão cumprida” é com esse sentimento que retorno para casa e que criei amigos, irmãos e que jamais serão esquecidos.

Faz menos de dois dias e já sinto saudades de tudo aquilo que descobri em Colméia, sejam as pessoas em si, ou pessoas conhecidas que me aproximei cada vez mais, ao ponto de dizer para cada um de vocês que amo eternamente vocês.

A todos aqueles que nos ajudaram durante a nossa preparação, obrigado.

Obrigado por tudo Colméia.

Obrigado Lê, Cafre, Ana, Bica, Grassinha, Paula, Douglas, Fernando, Daya, Nane, Lili, Helder, Edmilson e Daniel, por fazerem parte deste momento mágico de minha vida.

Saudades e Beijos,

Mário Afonso Lima

2 comentários:

  1. "This story shall the good man teach his son;
    And Crispin Crispian shall ne'er go by,
    From this day to the ending of the world,
    But we in it shall be remember'd;
    We few, we happy few, we band of brothers."

    "Henry V", William Shakespeare

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  2. fala ae velhos amigos rondonistas!!!! como estão....
    gostei de todos os textos de vcs!!! muitas saudades... abraço se cuidem...Fabio UFPR-LITORAL

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